.desengane-se quem acha que acabou de entrar num blog.

Monday, July 7, 2014

VII – Estou sem bateria sem saldo sem telefone sem ti e sem desculpas talvez


Depois da fase núpcias a que chamo a esses tempos em que o tempo dentro de nós não contava como os ponteiros do relógio foste-te embora. ligaram-te disseste. daí a dois dias tinhas que estar no aeroporto rumo não sei onde não disseste mas nesses dois dias tinhas coisas a preparar coisas sabes para a viagem preparativos vários dos quais não fiz parte não deixaste ligavas apenas e fizeste-me crer que a separação para ti era dolorosa mas era em nome de algo maior e importante para ti a tua vida tu a tua vida tu o nós passou para segundo plano mas também sabias que eu não te iria pedir para ficares tu sabias disso sabias que jamais te poderia pedir para abdicares de algo que sentia ser importante para ti e depois dizias que era coisa temporária que nos veríamos de vez em quando quando cá viesses ou que eu até poderia ir ter contigo – mas como se nem me dizias os sítios que pisavas e por onde passavas? mas espera minto passaste por Amesterdan e compraste um maço de cigarros cor de rosa para me oferecer – juraste tu como quem mais jura mais mente.

No último dia já noite madrugada dentro liguei-te o voicemail atendeu-me sempre detestei falar para um atendedor automático por mais bem educado que fosse mas a ausência de feedback do lado de lá enquanto falamos é terrível e a verdade é que apenas queria ouvir a tua voz uma última vez antes de ires embora para que também eu pudesse ir dormir descansada e sonhar que estava nos teus braços. apesar de estar indignada por nada dizeres nem por telefonema nem mensagem por poucas palavras que fossem voltei a ligar a tua atitude era atípica para mim como quem diz nova mas apenas significava o inicio de tudo o que se seguiria: o desprezo o teu desprezo que eu ainda não conhecia de perto. desta vez já tinhas o telefone desligado liguei para o outro número primeiro chamou depois desligado também. esta história das novas tecnologias têm muito que se lhe diga as baterias estão sempre a falhar e a rede a cair e os saldos são consumidos por obra e graça do espirito santo tanto mas tanto que quando tanto mas tanto queremos falar com alguém ou temos algo importante a dizer eles - os telemóveis entenda-se – falham-nos sempre mas sempre malditas tecnologias a alimentar expectativas vãs optei por deixar mensagem:

“Apenas queria ouvir a tua voz. Dar-te um beijo. Boa viagem.”

Fui-me deitar mas escusado será dizer que apesar de os olhos estarem fechados não dormi não sonhei levantei-me e fui trabalhar já tu tinhas supostamente embarcado e estarias algures nos céus. esta foi a primeira de muitas mágoas e nódoas negras infligidas por ti à minha pessoa pedaços de mim viam-se a cair no chão e atrás de mim ficava um rastro de sangue negro.

Ligaste nesse dia ao fim do dia já no fim do dia e eu sem forças. 

Desculpa disseste.
Queria tanto mas tanto ouvir-te ouvir a tua voz fiquei sem bateria não tinha saldo o outro telefone ficou no carro só vi as tuas chamadas antes de embarcar mas estava atrasado bebemos uns copos demasiados nem me deitei não queria mas adormeci e ia perdendo o avião.
Só agora te pude ligar.
Tenho pena tanta pena de não ter falado contigo antes desculpa-me.
Amo...
Estás bem? Sinto tanto a tua falta.
Está tudo bem disse tudo bem estou cansada foi um dia complicado cuida-te.
Desculpa.
Amo…te.

E o silêncio. 

A rede caiu talvez ou o saldo acabou talvez ou a bateria acabou talvez ou eu estava a acabar talvez resignei-me à insignificância da desculpa que acreditei piamente talvez fosse apenas isso talvez o amor resistisse a tudo talvez a distância distorça entendimentos talvez me engane talvez.

No comments:

Post a Comment