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Monday, July 7, 2014

VIII – Precisamos de um corpo à espera

A distância pesava-me demasiado e a ausência cada vez maior de nós eu a sentir-me tua sem te ter e tu a fazeres-me crer que te sentias meu sem o seres dizem que já nem me reconhecem – disseste numa noite das muitas em que falávamos ao cair da noite nos silêncios que gritam em surdina – estávamos numa esplanada a beber uns copos e iam passando umas miúdas no passeio mas eu nem reparava nelas olhar fixo distante diziam-me eles estava ali mas não estava estava contigo não sabiam eles a verdade é que já nem eu me reconheço olho para elas algumas até acho bonitas interessantes mas é a tua cara que vejo o teu cheiro em mim que continua impregnado em mim tu em mim dia e noite. 

Sabes acho que ambos precisamos de um corpo.

E apeteceu-me retorquir com qualquer coisa mórbida mas tu continuaste as saudades pesam demasiado não sei quando nos vamos voltar a ver isto assim não é vida remataste com não te posso pedir que me esperes não te posso fazer isso devemos ambos seguir a nossa vida arranjar um corpo algo físico preciso de te sentir não te tenho estou a dar em doido já não tenho vontade de estar com nenhuma mulher quero-te e o discurso ia de uma polaridade a outra completamente oposta até ao incomensurável e insuportável da ausência e da carência da impossibilidade de se ter no imediato o que se quer e a imaginar sentir arrepios pelo corpo em abraços fictícios e dizias tu isso é porque te estou a abraçar neste momento como se fosse possível como se estivéssemos ligados por algo assim de sobrenatural e as lágrimas nos olhos o desespero a ilusão no seu limite máximo era assim que andávamos e era assim que nos mantínhamos de um polo ao outro de esperar a acabar de ficar a ir assim como montanha russa emocional a dar cabo dos meus sentidos e da minha sanidade mental.

Tempos esses e eu via sombras de ti pela cidade algum traço andar tique figura ao longe que se te assemelhasse e estremecia não eras tu nunca foste tu mas eu achei que poderias estar a enganar-me e afinal estar no País e afinal pela cidade e um misto de sinergias chocava em mim querer ver-te e evitar ver-te mas mantinha-me presa aprisionada dentro de ti como um casulo podia ser que a lagarta se transformasse em borboleta.

Não muito tempo depois dessas conversas em que oscilávamos entre a discussão a insuportabilidade de continuarmos ligados à mais intensa das emoções agrilhoadas quantas lágrimas tentei conter disfarçar e também tu – eu sei – e sabes acho que nunca chegámos a ser verdadeiramente honestos um com o outro eu por não ser capaz naquela altura contigo longe e a confiança a desmoronar tu por manipulação apenas isso até que arranjaste uma substituta disponível e disposta a preencher as tuas necessidades e as tuas demandas. soube depois. não por ti. o nós passou a ser marcado por silêncios e desprezo e ausência no entanto eu esperava esperava-te no regresso na esperança de que cumprisses a tua palavra e que viesses ao meu encontro. ao descobrir que havia a outra ou a principal nunca soube voltei a sentir-me como naqueles dias da adolescência um patinho feio mas tentava convencer-me que era bem mais bela bem mais interessante e inteligente do que a outra ela mas o que te levou a virar a direcção noutro sentido foi apenas eu ser eu independente e quem preza a sua própria liberdade como tu dizias e a maior razão de todas eu não fui atrás de ti não me subjuguei a ti e às tuas demandas e orientações eu pus em causa a veracidade do que dizias a tua própria veracidade

Não me voltas a chamar de mentiroso! – disseste a propósito de uma outra conversa em que insinuei que me estavas a ludibriar.
Ah garanto-te que não voltarei mesmo pois não te darei a chance sequer de me voltares a enganar!

Mas voltaste e voltaste outra vez e eu dei-te a chance sim e permiti sim e sabia-o sim mas que queres que te diga queria-te ainda assim para mim foi ai que falhámos no querer queríamos demasiado mas não tínhamos não vivíamos a presença e sim a ausência demasiado.

Uns meses mais tarde já depois de nos termos deixado de falar já depois de eu ter descoberto que tinhas outra pessoa a marcar o meu lugar a calcar a minha sombra na terra seca que pisava estava eu numa formação num novo emprego melhor a ganhar melhor com melhor horário com melhores condições aparentemente promissor e na pausa chamadas tuas uma em cada um dos meus telefones corri liguei

“o seu saldo não lhe permite fazer essa operação”

porra novamente as novas tecnologias a deixarem-nos na mão ou sem rede ou sem saldo caramba voltei a sala já em estado visivelmente agitado um mix de nervosismo com alegria e medo quando te ia ligar do outro telefone ligas-me tu atendo voltaste por pouco tempo uma semana duas não dizes estás em Portugal em direcção a casa a caminho de casa a casa da tua terra natal onde nasceste não a casa da capital não a casa perto de mim mas sim a tua casa ver a tua filha. 

Ligo-te quando chegar – remataste sem esperar resposta minha desligaste.

Não sei se o que senti foi desilusão se raiva se ate mesmo compreensão – sim, eu desculpava-te tudo mas tudo – afinal na minha cabeça a tua filha estaria em primeiro lugar sempre mas não era pela tua filha que ias para casa tinhas mais alguém à espera um corpo à tua espera.

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