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Monday, July 7, 2014

XIII – Conversas caipiras ou caipirinhas de conversa

“Olá Diana. Que saudades tuas. Está combinado, amanhã no mesmo sitio de sempre à mesma hora. Qualquer coisa liga-me, o meu número é o mesmo. Beijo, Carlos”

Tudo estava como antes há sítios que parecem não ser tocados pelo tempo apenas as caras mudam outras os mesmos sorrisos conversas gargalhadas odores traços simpatia os mesmos os bancos que giram e rangem são os mesmos foi ontem que cá estivemos pela última vez ou primeira tanto faz estamos agora outra vez ou de novo pela primeira vez. ficámos cá fora a tarde quente de inicio de primavera ainda indefinido uma breve e lânguida brisa a surripiar pontos a vermelho no termómetro da parede ainda casca de ovo é assim que lhe chamam um dia dei comigo a olhar para a cor da casca de ovo e a constatar que na verdade darem esse nome à cor daquela tinta era curioso pode-se dizer que é arraçada de casca de ovo mas falta-lhe um bocadinho assim como ao danoninho e o tal anúncio estúpido de antigamente. 

Sentámo-nos a três quartos como sempre como nos velhos tempos não frente a frente como muitas das vezes vejo os outros fazerem sempre fiquei com a impressão de que quem se senta assim está a disputar qualquer coisa como num duelo ou combate e pouca é a intimidade ou proximidade que têm quase rivalidade. 
a três quartos sentamo-nos como velhos amigos que éramos 
somos ainda. 

…e foi mais ou menos isso que se passou – rematei depois de me ouvires por mais de meia hora em silêncio.

Eu bem que tinha razões para ficar preocupado Di quando me falaste nele ainda estavam no inicio…
Sim, achei que tinha tudo sobre controlo que não íamos chegar aonde chegámos, que não iria passar de encantamento passageiro.
Estavas radiante a negar um envolvimento que era visível. Temi que te magoasses outra vez, tu que já passaste por tanto. Gosto tanto de ti.
Também te adoro. Mas sabes que por mais que tentemos proteger quem amamos isso é tarefa impossível.
Mas tentamos.
Nunca conseguimos…
Às vezes achamos que sim…
Mas não…
Não.
Não mesmo… e devia ser possível assim tipo super-herói que aparece na hora dos apertos e nos salva de cairmos no abismo.
É… se bem que sermos amigos é um pouco isso, salvar do abismo amparar quedas…
…Apanhar o outro quando ele está em queda livre mas acha que está a fazer bungie jumping na maior segurança mas sem corda… obrigada por estares aqui
Tonta, obrigada eu. Por tudo, por teres sempre estado… que eu gostava de ter estado mais, ter podido agarrar-te sem que tropeçasses no abismo. Fico feliz por estares aqui. Pareces cansada…
Ainda estou a recuperar da ressaca… - Sorri
Tenho gurosan se quiseres, sabor laranja.
Gosto de limão e de café e de cigarros e de caipirinhas. Bebemos uma?

Não sei bem quantos anos se passaram desde que não via o Carlos tínhamos jantado juntos há uns anos atrás ainda no inicio do encantamento por ti Francisco mas já depois de uma ou outra desilusão e de teres ido para longe por tempos pouco tempo encantamento digo eu mas esse já deveria ter escoado todo deveria mas não tinha. o Carlos nessa altura disse que estava preocupado comigo por causa dessa cena tu e outras merdas da minha saúde verdade que garanti que estava tudo controlado estava tudo nice tudo bem super cool não te preocupes mania parva de nunca querer preocupar os outros mesmo quando estou a cair para o lado ainda sorrio e disfarço bem por sinal muito bem alguns maior parte nem dá conta de nada segue seguir em frente sempre é o caminho sempre doa o que doer seguir sempre sempre como se as tonturas não te cegassem e o coração não parasse como se a respiração não falhasse e os gestos não fossem imprecisos segue segui seguir sempre 
não corras contém respira 
anda segue 
não te doa nada nem a ti nem a ninguém 
respira.

Uma vez estávamos aqui nesta mesma mesa fim de tarde verão tínhamos saído do trabalho ah e tal relax conversa fiada risos partilhados olhar em frente um prédio numa varanda aberta um homem de sua forma física duvidosa com mais mamas que muita boa gaja por aí pálido branquela e flácido em boxers a fazer flexões de braços num ferro qualquer que tinha preso junto ao tecto. o que faz um gajo em plena tarde de verão que mora mesmo virado de frente para uma esplanada ter o à vontade de ir exibir o cabedal que lhe falta para a varanda? foi digno de uma paragem de uns quantos segundos nossa na conversa e de um breve momento de pausa no nosso particular mau humor desse dia. 

Ainda filosofámos sobre esta cena, lembras-te Carlos?
Claro que me lembro, estávamos com um humor de cão nesse dia. Como a auto-estima ou a alienação pode ser um bem, divagámos nós.
Continuo a achar que era alienação.
Ou completo desprezo por si e pelos outros…
Achas que o gajo ainda mora ai? Era engraçado ter um deja vu passados tantos anos…
Népias, vai na volta o gajo agora tem menos barriga que eu e é todo cheio de style.
Achas? Ninguém te bate em charme, continuo a ser a tua fã nº1.
Eu? Tu é que quantos mais anos passam mais bonita ficas, não sei o que fazes mas se não fosse teu amigo sabes que estava na primeira fila a competir com os outros mil gajos que são na maior parte uns totós que nem sequer sabem cativar e lidar com uma mulher inteligente e independente. Areia a mais para o camião deles continuo a dizer-te minha querida. Cambada. Tu és melhor que eles e mereces melhor do que esses palhaços que te apareceram na vida, até hoje não conheci um namorado teu que achasse bom para ti, sabes isso, talvez apenas o Bruno, mas mesmo esse… mereces mais.
É à pala desse discurso e do mereces melhor que bem posso ficar sentada à espera, Carlos. Quando é que vai aparecer-me um gajo como deve de ser? Nunca.
Não penses assim. Olha para mim que achava que tava perdido. Conheci a Rita e agora… estou feliz. Também vais encontrar alguém como deve de ser, acredita. Mas não te preocupes com isso senão ficas ansiosa demais e deixas de ver o que de importante está ao teu lado. Relaxa enjoy life miúda.

O Carlos agora já era pai de uma menina linda. há uns anos atrás depois de muitas relações falhadas disse-me “sinto-me sozinho” e o que ele queria dizer é que sentia a falta de uma família. encontrou. 

Acabámos a caipirinha em nome dos bons velhos tempos e das boas e longas conversas terminámos o cigarro vicio de tantos anos e cúmplice de silêncios partilhados ficámos de combinar um jantar com a mulher e a filha. segui até à praia ver o pôr-do-sol molhar o pés sentir a liberdade a vida a palpitar dentro de mim os sorrisos de união em faces desconhecidas o calor a percorrer cada célula do meu corpo a sentir o cansaço a abater-se sobre ele na esperança de conseguir dormir uma noite completa sem a pilula da submissão e chá de limão com mel ou bolachinhas com leite músicas de embalar as tuas palavras e abraços foram espaços vazios que me faltam entre braços preencher espaços calar calar-me pensar não pensar dançar sozinha sob o escuro tépido da sala em velas acesas e cheiro incenso jasmim mesas no caminho cortinas acesas em gestos de vai e vem como se o corpo cheio de amor esvoaçasse volúvel sem peso indolor a rebater tentações a ilusão de se ser feliz a ser sentimentos desvairados e combatentes da dor em noites foram foi o dia mais um dia o tal.

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