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Monday, July 7, 2014

IX – Processos pendentes – posso anular-te?


Eu estou encalhada.
Eu não, neste momento nem apaixonada estou, não tenho ninguém e estou muito bem assim!
Pois, é melhor assim, Helena. Pior mesmo é quando gostas de alguém e não podes estar com essa pessoa.
Mas não estás porque és parva!
Sabes bem que não…
Tenho-te achado muito nervosa ultimamente…
Sim, eu sei, é verdade.
Vê se tomas qualquer coisa, distrai-te, sai…
Não me apetece…
Não podes ficar a sofrer sozinha, não adianta nada.
Então e tu, Diana?
Eu? Estás a ver aqueles pedidos que temos em sistema, que estão pendentes há meses à espera de uma intervenção disto ou daquilo e não há meio de a coisa andar? Assim estou eu… em modo pendente.

Sorri. ambas ficaram a olhar para mim não sei se à espera de mais pormenores ou se por já não se sentirem sozinhas na desilusão do amor ou na ausência dele não acrescentei mais nada apenas sorri pendente é um estado indecente estes processos que nem evoluem nem se anulam mantêm-se em sistema em aberto a juntar-se a outros tantos na mesma situação a atafulhar o sistema e a ser causa de tantas e tantas reclamações e chatices pois assim estava eu sem tirar nem pôr e neste momento já eu deveria considerar o caso anulado. 

Deveria ter respondido qualquer coisa como “solteira boa rapariga e disponível” ou “encalhada” como a outra.

Simples bem mais simples. esta minha mania de complicar perspectivas dizem salta para a berma a do outro lado e vê pela janela o lado de cá simples não é? diferente não é? no entanto a realidade é a mesma apenas muda a perspectiva a tua mas na verdade a verdade maior de todas era que ainda após tantos meses de ausência ausências nossas de corpo e de palavras ainda me sentia tua e a merda é essa sentirmo-nos de alguém mesmo sem ora eu que sempre fui contra essa historia do ninguém é de ninguém e que amor não significaria possuir e que nem mesmo quando tinha estado apaixonada – sim antes já tinha estado e antes ate já tinha tido o que se possa chamar de um relacionamento assim daqueles à séria para casar ter um menino e uma menina de olhos azuis parecidos a anjinhos traquinas – me tinha sentido como contigo. momentos em alguns momentos onde olhava para o abismo ou ele olhava para mim não sei perguntava a mim mesma 
será que isto é o que se chama obsessão?

Logo eu que sempre fui contra isso – também – e que tinha terminado uma relação tempos antes por achar que o que ele sentia não era amor mas sim obsessão uma obsessão demasiado doentia e admiração de altar e que sarilho foi desprender-me dele e que sarilho foi para ele também e que sentimento descartável é esse de quando se sente que se esta a magoar alguém mas que não se pode dar palmadinhas nas costas nem ombros para verter lágrimas porque já tentaste e isso é ainda mais insane e le motiv de insanidade causador de mais e mais sofrimento ao outro em que o melhor é afastares-te de vez. 

dizem longe da vista longe do coração

Era apologista disso até agora não agora não agora que mesmo longe da vista continuas agarrado ao meu coração como corrente de aço e bigorna ao mesmo tempo que até respirar por vezes se torna difícil outras voas porque amas. 

Dias mais tarde enviei por engano um email a um colega que tinha sido transferido para outro departamento daqueles emails da treta que entre colegas tínhamos o hábito de enviar para irmos soltando umas gargalhadas ao longo do dia. quando recebo um email do diogo achei estranho não pertencia à equipa nem aos departamentos com que costumava manter contacto para resoluções várias dos processos 

“Envio-te ainda mais uns quantos assim ao jeito desses que enviaste.
É impressionante a quantidade de nomes e localidades caricatas que há por aí.
Está tudo a correr bem? Como é que estás?
Um Beijo,
Diogo”

Escusado será dizer que se tivesse forma de remediar o lapso que tinha cometido tê-lo ia feito assim a imaginar que a vida tem botões de rewind mas decidi seguir como se tivesse sido intencional sem problemas de maior mas a verdade é que nunca sequer tínhamos trocado um email sem que o assunto fosse trabalho aliás apenas trocámos um ou dois com listas de trabalho e cartas-tipo que nos faltavam em base de dados ainda estava ele no meu departamento mas não era colega com quem mantivesse grande contacto ou conversa para além de trabalho temas do foro da palhaçada eram apenas para uma lista restrita de alguns de nós uns quatro cinco que mantínhamos esse hábito e tentávamos não rir escandalosamente a tentar manter as aparências para o chefe não desconfiar do lazer em intervalos de trabalho dentro da empresa. não que o ambiente fosse rígido ou severo mas esta troca era-nos assim como intima e troca de cumplicidades não partilhada por todos portanto. a propósito do engano o Diogo e eu começámos a trocar emails - agora pessoais - dia-a-dia várias vezes por dia mensagens de telemóvel também fora de horas também em viagens também aos fins de semana também ao adormecer e acordar também.

Beijo em ti - dizia ele - Temos que marcar um jantar.

Sim vou falar com o resto do pessoal a ver quando se pode marcar isso.
O que ele nunca disse e que eu comecei a perceber era que o jantar e o temos éramos mesmo apenas nós sem plateia e que o beijo em ti me soava a provocação demasiada esticar a corda e que as visitas ao departamento eram para me ver e beber café apenas comigo. nessas coisas sou muito tonta não me apercebo ou talvez me vá apercebendo mas negue para mim mesma e continuo a achar que é apenas simpatia. passado uns tempos já as minhas colegas brincavam comigo acerca dele e das intenções dele ao que eu respondia sempre secamente nada disso lá estão vocês o homem tem namorada é comprometido e eu não estou para amar nem faz o meu tipo é engraçado faz-me rir e ponto final não há nada mais a acrescentar vocês é que vêm coisas onde não as há elas riam e tinham razão acerca do interesse mas tinham razão e eu eu quis-me afastar não gosto de gajos que mesmo tendo namorada andam ai a dar em cima de outras dele apenas queria amizade mas aquelas ternuras e as mil mensagens e emails ao longo do dia começaram a nausear-me e a revoltar-me confesso talvez por me fazer lembrar excessivamente de ti e do que vivi contigo dos nossos inícios haviam tantas mas tantas semelhanças que deixei de lhe responder. 

O que eu não sabia é que ele se tinha separado o que eu não sabia é que a relação deles estava por um fio mas que ele mantinha tentava manter por ela ser problemática uma pessoa muito complicada disse-me mais tarde o que eu não sabia é que ele gostava mesmo de mim o que eu não sabia é que se calhar podia ter tentado ser feliz com ele o que eu não sabia é que se calhar ele era capaz de me fazer feliz e não sabia nada disso porque continuava a achar que o Napoleão viria de lá do nevoeiro a cortar o nevoeiro em postas no seu cavalo marreco agarrar-me pela cintura dizer que me amava que desta vez iria ficar sim falo de ti Francisco napoleão sem patente renitente desistente sem desistir a resistir ao tempo a corroeres interiores que habitaste em abandonos de veracidades cruéis falsidades mascaradas. 

Por tudo o que vivemos e por esta obsessão de te amar e pela tua capacidade de manipular e manter as pessoas presas a ti mesmo que pela negativa pela discussão por tudo isso vivi encarcerada dentro de mim durante dois anos sem deixar ninguém se aproximar e nem sequer a permitir-me olhar para os outros com olhos de ver olhos de sentir os do coração de olhos fechados voltar a confiar fiquei com esse medo – mais esse - e à desconfiança e medo de abandono que já me acompanhavam juntou-se-lhe este ódio e nojo a ti um asco pegajoso que se entranha em nós e ofusca qualquer luz ou cor que se tente encostar que esteja do nosso lado ao nosso lado afastei-me do Diogo sem sequer me ter permitido voltar a respirar novamente e ceguei de tontura mesmo de olhos abertos ceguei 
ceguei os sentidos

afundei os sentidos vomitei melancolias escondidas em sorrisos e boa disposição com que encarava o dia-a-dia sozinha o abismo e a escuridão ainda assim o Diogo foi uma luz para que possa haver sombra - sabes na escuridão - onde os reflexos de corpos se unem e cruzam por momentos depende da direcção da luz e do nexo que a sombra tem na tua cabeça.

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