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Monday, July 7, 2014

XVI – Ouvi o texto muito ao longe

Contaste-me um passado de irreverência à margem caótico de suspeitas tu suspeita de qualquer acto ignóbil que não ouso sequer recordar apenas porque hoje tenho dúvidas dúvidas de se o cometeste se sequer tal acto existiu se sequer tu estiveste envolvido se apenas foi mais uma história tua fruto da tua excelente capacidade de mentira compulsiva e criadora de realidades inexistentes vícios vários declínios da juventude actos irresponsáveis ou não não serei eu a julgar julgar-te não me caberá a mim tal tarefa ingrata não te julgo prefiro preferi afastar-me disso das tuas histórias dementes vividas imaginadas sonhadas manipuladas mas apenas depois só depois de ter decidido de mim para mim abandonar esta nossa ilusão alucinação conjunta loucuras a dois talvez a um tu a inflingires injectares uma dose atrás de outra líquido gasoso corrosivo de loucura desalento abismo negro e queda em máscaras de mil cores bandas sonoras nostalgias melancolias várias enredadas nas falsas declarações e fáceis amo amo-te preciso preciso de ti os outros fuzilados sem se aperceberem outros a enlouquecer será isto talvez isto ou aquilo o quadro a tela por pintar mesclada de nódoas cinza a culminarem rasgadas folhas de papel em branco de rascunhos invisíveis indecifráveis 

até quando?

Tempos houve em que acreditava que poderia ficar com alguém assim tempos houve em que pensei poder ser a salvadora da pátria a tua esta mesma que se perdeu a encontrar o caminho de volta à origem tempos houve em que caramba tinhas passado um mau bocado tinhas recuperado merecias o melhor queria ajudar-te estar do teu lado impedir que jamais voltasses a sentir sentir-te a cair ou caído no chão a achares-te a flutuar mirabolantes recônditos espaços da mente demente se tornou.

A verdade é que lá voltaste à origem errante a tua o receio do César e meu de tempos idos nosso medo de te agarrares na queda ao que te faria cair mais ainda abismos que se afiguram escorregam sem pé baloiçando o real num fio imaginário a verdade é que nunca de lá saíste verdadeiramente vieste à tona mascaraste-te e os demais respiraram de alivio sorriram ergueste-te da bruma e do nevoeiro que passou mas enterraste os pés na neve naquele espaço de onde nunca saíste gelaste. recuperaste a tua vida depois do virar as costas portas fechadas a cadeado viraste viraste-te do avesso e agarraste seguraste o que foste capaz ela acompanhou-te por uns anos a desculpar oscilações do eu fragilidades tuas a serem fortalezas encerradas da Pilar foste afastando-te ao contrário do que eu supus quando te soube bem na vida como os de fora dizem não viste a tua filha crescer cresceu sem ti pai ausente a chorar de saudade e de remorso (seria real?) por não a ver crescer o tempo comeu a intimidade e a proximidade dos laços. tiveste outro filho dela ela fugiu de ti abraçou o menino renegou-te como amante e amigo pelo que soube pude saber contaram-me mais uma vez (é verdade?) nunca estiveste com ele apenas viste fotografias que ela te enviou pouco tempo depois de te teres mudado para aqui agora vieste para cá neste espaço que é o meu e pergunto-me porquê de quem estás a fugir quem queres encontrar o que esperas o que te espera aqui quem te espera cada vez mais te distancias dos teus de quem por elos de família jamais te renega ou talvez te renegue bebes mais um trago e outro a consumir os escárnios entranhados na pele e os olhos agora opacos já não falam mais em ternura nem sussurram palavras de amor.

Ainda sentes?

Ouvi o texto muito ao longe repetia o Camané nas horas mortas da dor da lembrança.

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